quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando somos úteis...

Quando somos úteis...

Era uma vez um maravilhoso jardim,

Situado bem no centro de um campo.

O dono costumava passear pelo jardim ao sol do meio dia.

Um esbelto bambú era para ele a mais bela e estimada

De todas as árvores e plantas de seu jardim.

Este bambú crescia e tornava cada vez mais belo.

Ele sabia que o senhor o amava e que ele era sua alegria.

Um dia, o dono, pensativo, aproximou-se de seu bambú.

Num sentimento de profunda veneração,

O bambú inclinou sua cabeça imponente.

O senhor disse ao bambú:

"Querido bambú, eu preciso de ti."

O bambú respondeu:

"Senhor, estou pronto, faz de mim o uso que quizeres."

O bambú estava feliz, parecia ter chegado a grande hora de sua vida.

O seu dono precisava dele e ele ia servi-lo.

Com voz grave, o senhor disse:

"Bambú, só poderei usar-te se eu te podar."

"Podar? Podar a mim, senhor?"

"Por favor, não fala isto, deixei a minha bela figura,

Tu vês como todos me admiram, meu amado senhor".

A voz do senhor tornou-se mais grave:

"A mim não importa que te admirem ou não,

Se eu não te podar, não poderei usar-te."

No jardim tudo ficou silencioso.

O vento segurou a respiração.

Finalmente, o lindo bambú se inclinou e sussurou:

"Oh, senhor, se não me podes usar sem podar,

Então faze comigo o que queres."

"Meu querido bambú, devo também cortar suas folhas."

O sol escondeu-se atráz das nuvens.

Umas borboletas afastaram-se, assustadas.

O bambú, trêmulo, a meia voz disse: "Corta-as."

Disse o senhor novamente:

"Ainda não basta, meu querido bambú,

Devo também cortar-te pelo meio

E tomar-te também o coração."

"Se não faço isto, não poderei usar-te."

"Por favor, senhor." - Disse o bambú.

"Eu não poderei mais viver, como poderei sem o coração?"

"Devo tirar-te o coração, caso contrário não poderei usar-te."

Houve um silêncio profundo,

Alguns soluços de lágrimas abafadas.

Depois o bambú inclinou-se até o chão e disse:

"Senhor, poda, corta, parte, divide,

Tome por inteiro, reparte."

O senhor desfolhou-o, o senhor decepou-o,

O senhor partiu-o, o senhor tirou-lhe o coração.

Depois levou-o para o meio de um campo ressequido.

Há uma fonte de onde brotava água fresca.

Lá o senhor deitou cuidadosamente seu querido bambú no chão.

Ligou uma das extremidades do tronco decepado à fonte

E a outra ele levou até o campo.

A fonte cantou boas vindas ao bambú decepado.

As águas cristalinas se precipitaram alegres

Pelo corpo despedaçado do bambú,

Correram sobre os campos ressequidos

Que por elas tanto haviam suplicado.

Alí plantou-se trigo, arroz, milho e feijão.

Os dias se passaram. A sementeira brotou, cresceu,

Tudo ficou verde, veio o tempo da colheita.

Assim o tão maravilhoso bambú de outrora,

Em seu despojamento, em seu aniquilamento

E humildade transformou-se em uma grande benção

Para toda aquela região.

Quando ele era grande e belo, crescia sòmente para si

E alegrava com sua própria beleza.

No seu despojamento, no seu aniquilamento,

Na sua entrega, ele se tornou o canal do qual

O senhor serviu para tornar fecundas as suas terras.

E muitos, muitos homens e mulheres encontraram a vida

E viveram deste tronco de bambú.

Quando morremos para o mundo nascemos para Deus,e nós tornamos canal de benção para outras pessoas